No dia 28 de outubro de 2023,
no âmbito da iniciativa Na pedra lembrar Diogo e aquando da Cerimónia de Apresentação e Entrega da Pedra de Armas à Paróquia de S. Jerónimo de Real, decorrida no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, lançaram os Amigos do Convento um público desafio: que se mobilizassem vontades e esforços com vista à classificação do Mausoléu de S. Frutuoso (Monumento Nacional desde 1944), que D. Diogo de Sousa também cuidou de cuidar, como Património Mundial da Humanidade.
Como na altura afirmaram,
fizeram-no como natural reflexo da missão que os anima e impele a agir, mas essencialmente espelhando o sentido cívico da comunidade em torno da sua própria identidade existencial, pulsar esse imbuído de grata memória e sério e desafiante compromisso. Pois, como recordando José Saramago lembraram: “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir”.
Fizeram-no, também, não por se tratar de uma mera apreciação subjetiva de um grupo de cidadãos, mas de uma factual constatação de que o Mausoléu de S. Frutuoso – mandado edificar pelo então Arcebispo na segunda metade do século VII –, exemplar único da arte romano-bizantina no país e considerado um dos mais fascinantes monumentos altimedievais da Península Ibérica, cumpre com mais do que um dos critérios definidos pela UNESCO para a atribuição da distinção. Por outras palavras, não por ser uma simples questão de vontade dos Amigos do Convento, mas por configurar factualidade, realidade. E, assim sendo, de uma singular oportunidade de se trazer para a luz um património cujas irrepetíveis feições materiais e imateriais, ilustrando um determinante período da nossa história coletiva e testemunhando o decisivo papel na sua construção, não configuram menos do que Património da Humanidade.
Nunca perdendo de vista que caminhar é já destino e que qualquer caminhada que ela seja começa sempre com um primeiro passo, fizeram-no, ainda, por entenderem que a unicidade do legado histórico, cultural, patrimonial e até espiritual de S. Frutuoso pode e deve ser enaltecido a todos os níveis e que não há outra forma de o fazer senão fazendo-o – e fazê-lo é fazer-lhe justiça. E por acreditarem, muito, que a complexidade e morosidade de um qualquer processo não podem sequer ombrear com o dever da comunidade de entregar à memória eterna os benefícios recebidos e desta nunca os fazer cair.
DITO ISTO,
face aos valorosos propósitos que o desafio dos Amigos do Convento encerra e em virtude de com eles totalmente concordar, entendeu a Junta da União das Freguesias de Real, Dume e Semelhe dar o primeiríssimo passo no sentido da assunção e institucionalização da ideia por parte dos poderes públicos, passo esse materializado em sede de reunião de Junta, no dia 6 de dezembro de 2023, com a aprovação unânime de uma proposta de apoio nela apresentada. Muito apreciaríamos que o Município de Braga, agora, aos Amigos do Convento e a nós se juntasse, invite que, em complementar mas não menos importante dimensão, se aproveita para desde já estender à Arquidiocese de Braga.
Pela frente, certamente, mais de uma década teremos. Mas dúvidas não temos – tal como os Amigos do Convento bem sublinharam – que uma eventual classificação do Mausoléu de S. Frutuoso como Património Mundial da UNESCO permitiria, estreitando-se laços com o inigualável legado do Santo e com o local onde um dia escolheu ser sepultado, enaltecer o nosso património cultural, a nossa memória coletiva, aquilo que muito nos define enquanto povo. Isto sem nunca esquecer, claro, a mais que certa projeção e valorização do território e os impactos económicos positivos, em particular ao nível do turismo, que para o nosso concelho e região traria a atribuição de tal distinção.
Pela frente, certamente, muito trabalho teremos. Mas dúvidas não temos que só nos arrependeremos daquilo que não fizermos, pelo que é
um dever tentar!
Ditas foram estas palavras por FRANCISCO SILVA, Presidente da Junta da União das Freguesias de Real, Dume e Semelhe, na Igreja de S. Francisco, a 14 de dezembro de 2023. Quase um ano depois, achamos por bem aqui lembrá-las.